Nestes tempos em que somos sacudidos por tantos desacertos e horrores sobre a qualidade da Civilização Brasileira que estamos construindo, uma exposição desponta para dar alento e encher nossos olhos de esperanças. Não, não estamos sonhando. A beleza e a história pode nos recordar de um caminho que já percorremos, antes de começamos a ser assaltados pelo feio, pelo ataque a nossos valores e prazer de viver. Veja mais destas delícias que chegaram à nossa cidade vindas de todos os cantos deste país tão maltratado por seus governantes.
Respirem e depois, suspirem!
Estive na exposição d’A Casa Bordada e, encantada, transformei em um pequeno convite, mais do que em um artigo sobre o assunto, já que bordados nunca foram minha praia, por falha de formação minha. Com essa ânsia por nos identificarmos com um mundo industrializado, nos distanciamos desse universo tão cheio de nuances e delicadezas que nos formaram. Desconhecemos, mas estão todas lá, as nuances brasileiras que produziram este povo que ainda luta por espaço a suas delicadezas. Somos detalhes, somos tantos pontos, somos bordados.
O Brasil não é jatinhos, consumo, corrupção, luxo e horror ao Terceiro Mundo. O Brasil é, ainda é, uma riqueza escondida entre linhas coloridas e telúricas refletidas por entre tramas de bastidores e molduras.
Como nos mostrou Mário de Andrade, o verdadeiro Brasil não está nos importadores de fluxos internacionais, mas nos jogos de cores e traçados que ainda circulam, ainda bem, por todos os rincões de um país que consegue se manter longe de uma superfície midiática e descartável.
No museu “A CASA – museu do objeto brasileiro”, o curador Renato Imbroisi reuniu representações de bordados vindos de 26 Estados brasileiros, além do DF para compor uma linda casinha erguida no centro do museu, dando ambiência aos talentos que nunca se perderam, apesar dos tempos de desejos apartados, tolos, massificados e descaracterizados.
A Casa Bordada é uma lufada refrescante de nossas raízes impecáveis, justas e profundas, onde devemos recuperar o que de fato nos pertence como lastro precioso, seguindo a sábia visão dos insuperáveis modernistas, não apenas de Mário, mas de todo o grupo do movimento, que conseguiram enxergar, para além das tolices, malandragens e pseudo sofisticações de uma sociedade açodada pela fraqueza de se desfazer do que lhe é próprio, primevo, rústico e telúrico, rumo a um mundo que lhe enxota para a margem, achincalhado de terceiromundista.
Mergulhados nesta casa, que é casa de nossas casas, parece que, limpando os palimpsestos que nos é imposto por nossas cidades sobrepostas, auto-destruídas e auto-destrutivas, chegamos ao princípio de tudo. Chegamos às casas que nos serviram de lastro num mundo que nos chacoalha para que sejamos líquidos e amnésicos. Frente às linhas que enredam nossas memórias, lembramos como somos cores, como somos pontos sobre pontos, como somos imagens de tantos sonhares.
Nesta exposição caprichada e encantadora, exatamente o terceiromundismo de nossas raízes estão expostos em toda a sua gloria e singeleza, sem que lhe seja estranho tal paradoxo. A variedade de trabalhos vindos de mãos caprichosas e industriosas ilustram sonhos de lugares ermos, mas não menos charmosos. Sim, somos chiques! Sim somos singelos! Sim, nossos mais belos espelhos da rica cultura brasileira são produzidos por mulheres talentosas ainda que anônimas, e sim estamos vivos!
Não deixem de se olhar nesse espelho maravilhoso que é o bordado brasileiro!
SERVIÇO:
Até 13 de agosto
Além da exposição, A CASA BORDADA oferecerá cursos de bordado, seminários e feiras.
(11)3814-9711 e 3097-8840
Av. Pedroso de Morais, 1216 – Pinheiros
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