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Pelas ruas da Bay Area da California: Mobilidade!

Mobilidade e Acessibilidade

Se os E.U.A são reconhecidamente democráticos por seu sistema político e judicial (principalmente), agora essa percepção se estendeu a um espírito de URBANIDADE que não reconheço no Brasil, nem em outros países que já visitei. Me dei conta que ser democrático é permitir que todos possam participar da Urbis ou da Pólis ou da City ou como chame o local onde as pessoas vivem e estão postas para circular e interagir. Se as pessoas que vivem nesses coletivos estão condenados à condições parciais de reclusão, então não podemos falar em espaços democráticos. Cidades onde somos forçados a pular poças, buracos e calçadas irregulares, não se pode falar em democracia.

Quando fui fazer uns cursos em Berkeley, me hospedei em Oakland que não é tão visada turisticamente, e sempre que podia, dava uma fugidinha à San Francisco ver manifestações remanescentes da contracultura na vida alternativa, ou sustentável que se mantiveram aqui e ali, sempre afastadas de sua intensa vida turística atual. Mas era Berkeley a cidade que eu percorria todos os dias, e comecei a invejar os cuidados com seus habitantes – locais e estrangeiros, que aliás, passam da metade da população, o que a torna uma filial da ONU num grau muito mais divertido, porque envolve estudantes e artistas de todas as partes do Planeta.

Impressionada, passei a registrar as muitas formas de locomoção oferecidas pelas três cidades a seus cidadãos, fossem jovens e vigorosos, fossem velhos e alquebrados, fossem paraplégicos, cegos ou o que mais um cidadão possa ser, circulando e aproveitando o que a cidade tem para oferecer por uma administração eficiente, alerta e verdadeiramente democrática.

Mobilidade e Acessibilidade

Todas as esquinas rebaixadas, calçadas lisas.

Com curiosidade comecei a perceber que todas as esquinas possuíam as calçadas rebaixadas, facilitando cruzamentos e acessos, não apenas aos mais incertos e deficitários, mas dando condições a outras formas de, como o skate. Com calçadas maravilhosas, sempre bem cuidadas, lisas e limpas, o uso do skate pode se tornar uma opção cotidiana e regular. Essas escolhas favoreceram o ganho de mais espaços nos ônibus, e também favorece o prazer de garotos que se fazem ágeis, independentes e respeitosos no convívio constante com os pedestres, nas idas e vindas de seus caminhos.

Mobilidade e Acessibilidade

Calçadas boas, fluxos fáceis.

Existe Bart pra todo lado (sigla de Bay Area Rapid Transit), que se trata de um veículo entre metrô urbano e o trem intermunicipal percorrendo várias cidades intercaladas, numa cornubação chamada Bay Area, encabeçada pela mais famosa, San Francisco, o centro financeiro. Fiquei sabendo depois, que apesar da fama, o porto marítimo maior e mais importante fica em Oakland, onde o transporte industrial mais pesado chega e parte de suas docas. O porto de San Francisco concentra as embarcações turísticas e pesqueiras alimentando seu extenso cais de restaurantes de frutos do mar, incluindo o famoso Pier 39, cheio de restaurantes e lojas por metro quadrado.

Em toda essa grande baía, os transportes são os mesmos que já conhecemos, mas o que muda é sua complementaridade. Um exemplo é o transporte dos ciclistas pelo metrô (Bart) e transportá-los até os ônibus, que desenvolveram um sistema simples, metálico, fixado à frente de TODOS eles, adaptados ao transporte das bykes. Esse sistema intercalado e complementar faz com que elas sejam uma constante, favorecendo um transito mais educado, complacente e fluido, já que inúmeros carros saiam das vias públicas, em favor de outros sistemas.

Mobilidade e Acessibilidade

Facilitando a vida dos ciclistas.

Além desse mix de transportes tradicionais cruzava, constantemente, com skates como transporte, favorecidos por asfaltos e calçadas decentes e bem acabadas, facilitando, não apenas o fluxo dos adolescentes em skates, mas também toda sorte de bengalas e outros sistemas de suporte de idosos. Adorei particularmente um andador com rodinhas que possuía acento e cestinha em baixo. Vi várias velhinhas (e só um velhinho) com ele. Era prático porque elas caminhavam um pouco e, cansadas, davam uma sentadinha. E com a cestinha em baixo, seus braços sempre estavam livres das bolsas e compras.

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Andador com rodinha, cadeira e cestinha para autonomia.

Além da eficiência dos ‘busões’ outra coisa que me encantou foram os pontos de ônibus. Como um abrigo coberto com duas faces em vidro temperado, têm mapas da região ao redor do ponto estampados no interior, e na outra lateral, os nomes dos ônibus com indicações de seus percursos principais, ida e volta – para cada linha! E ainda protege da chuva do vento e promove a prefeitura da cidade. Na foto que registrei, preferi a solução de Oakland, com seu lindo Carvalho como símbolo contra o céu azul, protegendo bancos e encostos para quem prefere ficar em pé recostado. Lembrando que sempre há outro banco a céu aberto, ao lado de uma lixeira com divisão para lixo reciclável e orgânico, onde costumam ficar os namorados, fumantes e grupos de escolares tagarelando.

Outro sistema eficiente e generalizado eram as ciclovias que se impuseram ao ritmo dos carros, obrigando-os a respeitar sem impaciência, bicicletas como aos pedestres que, invariavelmente, só atravessavam nas faixas que os conduzia sempre, a uma calçada rebaixada. Por esse cuidado, perfeitamente adequado, outras formas de carros e carrinhos circulavam por vias públicas, verdadeiramente públicas.

Outra característica do trânsito, que para mim parecia mais como um fenômeno, infelizmente, foi assistir ciclistas cruzando as vias em diagonais na frente dos carros, onde motoristas de todas as idades, com mais ou menos testosterona, de muitas tribos urbanas, mantinham-se pacientes e educados. Chamava atenção inclusive, o comportamento cordado de cidadãos com sinais de grupos associados a violência, cobertos de tatuagens, roupas de couro, cabelos e comportamento supostamente rebeldes – por senso-comum ou preconceito – super gentis. Assim, os carros, os ônibus e ciclistas, todos paravam para que outro veículo ou transeunte pudesse passar sem ter de correr ou se esquivar em luta pela vida como somos todos levados a fazer quando nos aventuramos por nossas ruas esburacadas, tomadas por carros que se movem com impaciência e inconseqüência.

As ideias para facilitar a vida dos cidadãos da Bay Area, uma região muito populosa que envolve grandes portos, uma das regiões mais turísticas, junto uma das cinco universidades mais procuradas e importantes dos EUA. Com perto de oito milhões de habitantes, essa região, moderna e industrializada, não esnobou os velhos bondes, que além de levar seus habitantes pra cima e pra baixo na grande e íngreme San Francisco, encanta os turistas.

Outra solução notável foi a preservação de grandes áreas da prefeitura ao lado das vias férreas do Bart, que reúne, como aqui, várias linhas de ônibus ao redor de cada grande Estação. Como a prefeitura tem a intenção de induzir o abandono dos carros em favor dos transportes públicos, o estacionamento cobrará UM dólar por dia, das 10 da manhã às 3 da tarde, de segunda à sexta, liberando os horários antes do pico da procura – da 4 às 10 da manhã. Por esse preço, vale a pena largar o carro o dia quase todo, optando por ônibus, bondes ou metrôs. Eficiente e inteligente.

E não acabou. Tenho uma imagem super simples que facilita o transporte dos bebês em carrinhos para passear. Ultimamente ando vendo versões locais de capas de chuva específica para carrinhos de bebê. Parece uma bobagem, mas até pouco tempo, quando chovia o bebê ficava sufocado num plástico jogado por cima de tudo, ou protegido apenas por um guarda-chuva oscilante entre o bebê e o passo hesitante pela chuva… tentando equilibrar o dono e a chuva – tecnologia muito falha. E por fim, surpresa e encantada, notei que em uma das casas próximas da que estava hospedada, possuía um elevador para substituir a grande escada que seria um empecilho grave em caso de algum ocupante com problema de mobilidade. A escada era longa inclinada, mas a seu lado um elevador encostado na casa, demandava uma adaptação na parte de cima em contato com a casa. E como a casa era simples, acabei confirmando que o elevador era alugado da prefeitura aos moradores necessitados, sem ter de mantê-los confinados ou forçá-los a se mudar, oferecendo uma solução justa e personalizada, com alto padrão tecnológico. Novamente fiquei encantada.

Mobilidade e Acessibilidade

Elevadores com subsídio da prefeitura.

E foi assim que, confirmei que, quando o Poder Público quer, soluções de todas as maneiras dão condições de vida superior num nível de igualdade a todos os seus eleitores e pagadores de impostos, num trabalho que busca o convívio e a igualdade de justiça. Em uma urbis pensada para seus cidadãos, Civilização e Democracia fazem parte do cardápio, junto com serviços públicos que visão seus moradores, deficientes ou não, sem privilegiar o Capital do Transporte, mas sim, o Capital Humano sobre o qual investe.

Várias outras imagens sobre o assunto podem ser conferidas no site do Pinterest:  https://br.pinterest.com/glauciapimentel/mobilidade-urbana-california/

 

 

 

 

 

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